domingo, 28 de maio de 2017

A ÚLTIMA BIBLIOTECA



 Corria o ano de 2300 DC. As criações tecnocientíficas super-evoluídas já eram consideradas o suprassumo da tecnologia desenvolvida pelos humanos.

 Parecia que nada mais havia para ser criado em qualquer ramo da ciência.

 Com a abundância, a humanidade rolava no tédio, fruto do “nãotemmaisnadadenovidade”. Tudo que podia ser inventado já fora. Todas as comodidades possíveis já estavam em funcionamento. Até o controle remoto agora era acionado através do pensamento. As pessoas voltaram, então – os saudosistas continuavam incorrigíveis - a querer ler uns livros, mas as bibliotecas haviam sido extintas. Surgiu, porém, um maluco teve a feliz ideia de arrecadar – em alguns lugares esquecidos e cheios de mofo – antigos objetos que haviam sido chamados de livro no passado longínquo. Vasculhou sótãos e porões do mundo inteiro já abandonados há muito tempo até encontrar alguns velhos e semidestruidos livros que haviam, milagrosamente, sobrevivido. Formou, então, uma pequeníssima biblioteca com pouco mais de uma centena de exemplares. Leu todos e ficou maravilhado porque redescobriu o prazer de ler uma folha impressa, sem luz para controlar e sem botões para apertar. Enfim, sem precisar ligar e desligar qualquer chave. Sem precisar utilizar qualquer tipo de energia a não ser a própria vontade e a de ter que abrir e fechar o livro quando tivesse que continuar ou interromper a leitura.

 Esse homem, em um dia de boas idéias, lembrou-se de compartilhar seu prazer com os demais sobreviventes do mundo. Não teve ideia de cobrar por isso porque naquelas alturas o dinheiro não circulava mais. As pessoas pegavam o que precisavam ou imaginavam precisar sem precisar comprá-las.

 E assim foi. Logo a fila dos interessados em ler livros era enorme. Quando alguém chegava, ele tinha apenas que anotar o nome e dizer a data em que o interessado poderia vir para ler um livro cujo título escolhia entre os poucos que existiam:

 “A sua leitura está marcada para o dia...Deixe ver...(Procurou em um grande livro de anotações, isto é, em seu computador manual. Aqui está. O livro que o senhor quer ler é muito requisitado. Fala de coisas que não existem mais: árvores, animais irracionais. É! Você terá que voltar no dia 16 de março de 2303, das 10h às 12h. Estamos com uma média de espera de três anos”.

 E falou para o seguinte da fila: “O próximo, por favor!”.


Um comentário:

  1. Adorei!!!
    Acredito que os livros e o rádio não vão terminar nunca!!

    Beijocas saudosas,
    Marcele

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