terça-feira, 21 de março de 2017

JANJÃO TAMBÉM PODE SER PRESO

 Estava eu, em um sábado pela manhã - depois de um daqueles "prende-e-solta" promovido por um conhecido juiz federal - caminhando pela Rua da Praia, assim como quem não quer nada, só para matar o tempo, quando me deparo com o Janjão. Logo o interpelei quando cheguei mais perto dele para saber de alguma novidade, que nessas coisas ele é especial.

 "E aí, Janjão, velho, como andam as coisas?"

 "Mal". Respondeu logo em seguida. "Infelizmente mal. Perigosas."

 "Como assim, perigosas?" Manifestei minha estranheza.

 "Pois não ouviste dizer que, agora, os próximos a serem presos vão ser os que têm nomes terminados em "ão"?"

 "Mas, homem, isso não pode ser critério para prender alguém!"

 "Poder, não pode, mas, na dúvida, vou tratar de ir sumindo por um tempo. Já estou sabendo que prender ou não-prender não depende muito de critério pelo que se tem visto. O critério agora é não ter critério."

 "Não sei o que dizer, Janjão. Mas, aonde vais com tanta pressa?"

 "Vou na casa do meu amigo Hamilto para avisar dessa nova para que ele também se cuide."

 "Espera um pouco! Agora não entendi! O que tem a ver Hamilto com um nome terminado em "ão"?"

 "Cara estás esquecendo que o apelido dele é "alemão"? Não sei se eles não vão considerar o apelido também. Aliás, isso está muito em voga, não é?"

 E continuou, apressando o passo a subir a rua em direção à Independência.