segunda-feira, 21 de setembro de 2015

UM SABIÁ NO ASFALTO

  Ainda é madrugada na capital dos gaúchos. Reina um relativo silêncio no centro histórico que habito e onde, agora, tento completar meu período de repouso. De repente, assim como num passe de mágica, uma parte da natureza se rebela com os monstros de  ferro e cimento que povoam esta nesga de terra cultuada por nossos ancestrais outrora coberta apenas de densa vegetação nativa. Uma manifestação melodiosa de um anônimo sabiá invade os apartamentos, atravessando as vidraças, vindo de algum lugar lá embaixo, onde a vista não alcança.

 Na cidade, a vida quotidiana recém começa a estabelecer suas primeiras rotinas. Os cidadãos do bem recém despertaram; os do mal talvez ainda nem tenham repousado. A vida urbana retorna ao mesmo ciclo que encerrou ontem à noite.

 Aqui, na semi-escuridão quase silenciosa de meu quarto, sou capaz de voltar no tempo revendo seus iguais que saltitavam libertos e felizes, exibindo o garbo matreiro próprio da espécie nos caminhos forrados de grama em busca de sua ração diária.

 O que ouço são apenas algumas notas musicais. Por enquanto há somente a solidão da noite que se esvai em busca de sol. É apenas um pássaro quase comum das poucas matas que ainda nos restam, mas reparem no significado deste som para um urbano limitado em uma grande caixa de concreto junto a tantas outras também encurraladas por impedimentos que eles mesmos criaram para si. É apenas um sabiá que, sem se personificar, apenas se anuncia pelo que tem de mais belo em seu viver: seu canto mavioso e envolvente, consolador e plangente, que acaba ferindo o sentimento de quem o escuta com atenção. Não há como não reparar.

 As árvores são tão poucas por aqui, que me é mais fácil imaginá-lo pousado em um contêiner ou talvez na carcaça de um automóvel abandonado em uma viela qualquer das proximidades. Ou - quem sabe? – em uma daquelas résteas de praça espremidas entre  gigantes de circulação que, de um momento para outro, fica lotada de pequenos monstrinhos barulhentos e bebedores de combustível que emporcalham o ar que precisamos para respirar.

 A natureza se rebela em parte porque estamos acabando com os poros da terra. Acho que o homem também vai acabar se transformando também em um ser sem poros, como tem desenvolvido seus agrupamentos urbanos. Com uma alma sem poros, não há também sentimentos e passam a ocorrer episódios não só como aqueles que resultaram  na morte de um menino – tão anunciada pela mídia - mas muitos mais que são sacrificados diariamente pela cobiça e a vaidade de alguns poucos que conseguem transformar o mundo em um lugar impróprio para a beleza e a vida.

 Voltando ao sabiá depois das digressões. Encerro sem conseguir desfazer uma dúvida atroz que permeia minha exposição.   O sabiá do asfalto saltitará livre em busca de uma companheira a quem dedicará seu canto maravilhoso? Ou estará enjaulado, vítima de algum sádico que se deleita vendo seu lamento através das grades? Confesso que não sei. Vou continuar buscando localizar o meu despertador melódico. Espero que a resposta seja a melhor para o caso. Afinal, o dia já está quase começando novamente e, provavelmente, vou esquecer-me dele, envolvido que vou estar com outras questões que
podem não ter a mesma importância do que valorizar pequenas coisas, como esta. Só espero que ele, mesmo sem saber, volte a trazer-me mais alguns momentos de encanto como os desta madrugada.


Wenceslau Gonçalves
Porto Alegre, set. 2015



terça-feira, 1 de setembro de 2015

THEATRO ESPERANÇA

 Uma das obras de Jaguarão que apresenta aos conterrâneos a maior expectativa de que seja concluída é a restauração do Theatro Esperança. O Esperança pode ser considerado uma das construções simbólicas da cidade. É, por certo, também, uma das mais belas e representativas de uma época áurea no setor cultural de Jaguarão. Em recente retorno à Cidade, tomei conhecimento que a previsão - esperamos que se realize - é a de que o teatro seja aberto ao público em outubro próximo. Para os que ainda não tiveram a oportunidade de ver o trabalho de mestre que vem sendo realizado ali, transpusemos algumas imagens de uma página da Marsou Engenharia (   http://marsou.com.br/portfolio/teatro-esperanca-de-jaguarao-rs-2/#   ), que é a empresa encarregada da restauração do nosso teatro.