segunda-feira, 26 de maio de 2014

"PRODUÇÃO DE AUTOR PREGUIÇOSO"

MICROCONTO
(Para Carlos Eduardo Machado)

Uma certa vez na antiguidade, três homens discutiam. Um era sábio; outro era comerciante e, outro, era louco. Quando descobriram que nunca chegariam a um acordo em suas discussões, acabaram inventando a política.

MICROPOESIA
(Na verdade um haicai no modelo clássico: 17 sílabas/5-7-5)

Escutando bem:
entre as canções alegres
há um suspiro

domingo, 4 de maio de 2014



O COLIBRI DE ARAMBARÉ

   A tarde é linda, enfeitada com as cores do outono como costumam ser os dias de abril. O sol ilumina tudo com seu calor e aquece os bons e os maus como é sua missão desde que foi idealizado (Por quem ou porquê não vem ao caso agora). O colibri esvoaça, beijando flores como fizeram seus ancestrais desde o início.  A sua liberdade de voar é infinita. Seu limite é apenas o que faz cansar suas asas no incessante bater a procura do néctar que sustenta sua sobrevivência. Isto ao menos até que os humanos inventassem os muros e as vidraças que refletem cores e não-cores. Foi o que aconteceu com aquele que foi chocar-se com a parede da casa que alguém colocou em seu itinerário secular. Talvez o mesmo que, em outras vezes já a havia invadido  em alguns vôos equivocados que acabaram em extenuantes tentativas de reverter a situação até que voltassem aos seus caminhos aéreos desconhecidos dos humanos.

    Após o choque, ele estremece e cai no solo, permanecendo em estado de imobilidade que se confunde com a morte ou quase isso. Há uma mão abençoada que o acolhe e o abriga para que se recupere. Ao que parece há pouca esperança, mas mesmo assim, quem sabe a força positiva do desejo para que supere o trauma, funcione e ele se recupere. Há expectativa e dúvidas de outros humanos que acodem para torcer pelo melhor. As sugestões surgem e variam do útil ao fantasioso . Uma delas é que se dê um tratamento humano ao “serzinho” que, agora, descansa na mão que o acolheu e o mantém protegido, dando-lhe o carinho que imagina necessário para resolver o problema. A terapia é um “spray” utilizado para casos doloridos, aplicado na parte que julgam mais atingida.  Assim é feito. O efeito esperado é imediato – coincidente ou não – e, de inopino, o pássaro voa rápido e livre para o espaço indo pousar na figueira próxima. De lá, ele contempla o grupo que há pouco dedicava sua atenção  ao prosaico probleminha de um pequeno pássaro entre os milhões que povoam nosso planeta. É uma gota no oceano imenso; é um grão de areia no deserto; é tudo o quiserem de mínimo ante tudo o que nos cerca, mas a satisfação de ver o resultado é imensurável. Certamente merece muito mais do que um simples comentário deste escriba quase anônimo em nossa internet povoada de doutores e sábios.


(Arambaré, maio/2014)