segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

'OS INFERNAUTAS'


 

 Reconheço que não são conhecidos com esse nome porque assumiram a forma humana e se fazem chamar pelos nomes mais comuns, conforme o lugar em que estão. Eles, hoje, são em número considerável e seu habitat é, praticamente, o mundo. Até hoje vi muito pouca coisa que coíba suas ações cada vez mais nefastas para os seres que habitam o nosso planeta. Naqueles países onde há mais controle social, eles têm mais dificuldade em disseminarem suas infernices, mas, mesmo assim, agem, embora com menos intensidade.

 

 Os infernautas intensificam suas ações nos períodos em que as pessoas estão mais predipostas à tolerância, que, no caso brasileiro, são, principalmente, os dias dedicados às férias, que ocorrem geralmente no verão, em locais onde as pessoas pretendem descansar sem preocupações que as afligem durante o ano, como trabalho, escola, pagamento de prestações, etc.. Durante as outras estações do ano, eles atuam mais discretamente mas, igualmente, não deixam de agir. Naqueles países onde suas ações nefastas são mais controladas eles tem mais dificuldade em disseminarem suas infernices.

 

  O pouco que sei deles é que foram criados por um poderoso cientista habitante de um planeta muito mais adiantado do que a nosso com a finalidade de destruir os habitantes de um determinado planeta inimigo. Eles foram mandados para lá de forma disfarçada e acabaram destruindo aquela civilização à força de terem enlouquecido os habitantes do planeta. Na verdade, o método que aplicaram foi de infernizar a vida deles até que os próprios acabavam se suicidando porque não suportavam mais viverem com a presença deles. A verdadeira  missão deles era, na verdade, a de “infernizar” a vida daquelas pessoas até conduzi-las à morte por uma espécie de enlouquecimento induzido.  Daí o nome “infernautas”, que lhe foram aplicados pelos policiais interplanetários encarregados de capturá-los. O objetivo foi conseguido após alguns anos. O que aconteceu, então, é que, logo após esse fato, o criador deles perdeu o controle sobre eles por uma falha do sistema e eles abandonaram aquele planeta e se dispersaram, sem qualquer controle, por toda nossa galáxia. Alguns deles vieram parar na Terra e, aqui, devido a terem encontrado boas condições acabaram se multiplicando  em grande proporção. O risco é maior porque eles têm uma grande capacidade de reprodução, isto é, a cada ano aumenta seu número e, portanto, cada vez será mais difícil exterminá-los.

 

  Para que possam identificá-los melhor e saberem que precisam tomar alguma providência senão podem acabar tendo o mesmo destino da civilização extinta naquele planeta, vou descrever alguns comportamentos que eles assumem quando estão travestidos de humanos. Gostam de escutar música bem alta (o maior volume possível de um aparelho potente) e, de preferência, um som repetitivo e monótono. Às vezes a letra é praticamente inaudível porque, normalmente, é em língua diferente do país em que estão infernizando. São capazes de escutarem a mesma música desde que se levantam até a hora em que caem na cama (literalmente). Ingerem muita quantidade de bebida alcoólica. Uma de suas diversões prediletas é praticarem essas “antihumanidades” nos horários de descanso das pessoas normais, como, por exemplo, ao meio-dia ou pela madrugada quando todos dormem. Quanto maior o número de humanos que são molestados, maior é o prazer que conseguem alcançar. O metabolismo deles funciona estimulado pelo mal que forem acumulando durante “suas infernices”.

 

  Estamos bem na época em que os “infernautas” costumam intensificar suas ações. Portanto, quando identificar algum membro dessa espécie, se não conseguir afastar-se dele, certamente sofrerá graves conseqüências em sua vida normal. Não conheço alguma providência que seja realmente eficaz para nos livrarmos dos “infernautas”. Quando algum cientista descobrir alguma fórmula que atinja tal objetivo, provavelmente haverá ampla divulgação para o bem de toda a humanidade. Por enquanto, só nos resta esperar...ou rezar (os que acreditam, é claro)!

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

QUAL É SUA PROFISSÃO?


 O episódio ao qual quero referir-me é sobre o comportamento de uma autoridade do Judiciário, que veio a público há poucas semanas. Se o participante fosse alguém da chamada “classe política”, por certo não causaria muita surpresa e talvez nem chamasse muito a atenção porque, ultimamente, o “esporte preferido” de grande parte dos veículos de imprensa do País tem sido o de bater em ocupantes de cargos eletivos, mormente os de situação, no âmbito nacional. Isso com, ou sem razão, ressalve-se. 

 Aqui vacilo, buscando um termo que sintetize a atitude que, no meu entender, acabou, talvez, causando algum estrago na imagem de uma corporação que deveria ser um modelo de comportamento a ser seguido.  Opto por reconhecer que a atitude tomada por um senhor juiz em uma barreira de trânsito pode muito bem ser enquadrada no termo “carteiraço” o que é facilmente entendido por todos. Sua Excelência, com isso, passou a ser “vítima”  de uma servidora pública enquadrada em “abuso de poder” por tentar cumprir com seu dever de ofício. Não creio que o fato gerador da sanção que sofreu tenha sido uma mera expressão que teria sido emitida pela funcionária.

 Abro um parêntese. Do que tenho lido sobre o assunto, julgo que quem melhor conseguiu resumir essa triste passagem de autoritarismo foi nosso mais novo imortal, Zuenir Ventura, que, numa frase antológica, diz: “Nele (o episódio), Deus não aparece ou aparece disfarçado, mas é evocado e confundido com um juiz” (Jornal O Globo, 8.11.14). Fecho parêntese.

 Bem, até aí tudo normal. O carteiraço é uma instituição nacional reconhecida como benéfica para quem a utiliza e maléfica para quem sofre seus efeitos. Sua avaliação depende da posição em que se encontram seus protagonistas. Ela é praticada por indivíduos pertencentes aos mais diversos segmentos sociais. É usada até por quem, eventualmente, não tem uma posição que possa utilizar a malandragem. Às vezes com igual sucesso. Para quem se julga mais importante do que seu semelhante, o objeto da humilhação é, na verdade, uma pessoa de menor valor e certamente precisa “ser colocada em seu devido lugar”. Há quem diga que esse tipo de preconceito remonta aos tempos da nefasta escravidão que manchou a história deste País. Está, portanto, consagrada em nossa cultura.

 Desculpem os leitores, mas, depois dessa introdução o que quero mesmo é registrar minha preocupação com o que considero o mais grave dessa situação. Refiro-me ao fato de que o “inventor” dessa estupidez autoritária foi consagrado por seus pares do Judiciário quando foi aplicada uma sanção pecuniária à servidora que cumpria seu dever. Isto significa que, se  o autor for vitorioso até o final da querela, provavelmente a ser definida pela mais alta Corte da Justiça apropriada para dirimir a questão, a própria instituição estará consagrando a atitude de Sua Excelência como correta e, portanto, quem abusou da autoridade foi realmente a funcionária ao interpelar um membro do Judiciário que não portava os documentos que os demais cidadãos comuns precisam ter consigo quando conduzem um veículo automotor. Parece-me que isso seria abrir um precedente para que outras tantas “autoridades” possam utilizar o tradicional carteiraço sem qualquer risco de sofrerem reprimenda de suas corporações.

 Vou mais longe ainda: se todas as corporações se movimentarem em torno de privilégios vai ser necessário elaborar-se listagens daqueles que estiverem isentos de punições e imagino que poderiam ser incluídas outras profissões nesse rol, como jornalistas, médicos, parlamentares, etc.  Qualquer ação do servidor nesse tipo de atividade ficará, então, sujeita à censura dos deuses que, eventualmente, estejam dirigindo um automóvel quer a serviço ou em merecido lazer. Sugiro, também, que, antes de qualquer providência, o funcionário de serviço, ao constatar uma infração, formule uma pergunta que pode passar a ser freqüente: “Qual é sua profissão”. Assim pouparíamos tempo e dinheiro para o Estado e algum vexame e sanção para o servidor, é claro.

 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014


MÍDIA: LIBERDADE e liberdade

 

 Sem dúvida a questão da liberdade de imprensa é um tema que permite as mais diversas interpretações. É tão controversa que há quem diga que nem isso se deveria discutir: se há dúvida; ela não existe. Pode ser. E pode não ser.  Vamos debater somente a questão brasileira? Temos ou não temos liberdade de imprensa no País? Em um primeiro momento, os mais afoitos responderiam que sim, sem qualquer delonga. Outros – neles me incluo – responderiam: sim...e não... É complicado mesmo!

 Há algum tempo, numa madrugada daquelas sem sono, em que não se acha o que fazer para enganar o tempo, deparei, na TV, com uma entrevista que estava sendo concedida pelo conhecido jornalista e escritor Fernando Moraes, autor de “A Ilha”. O entrevistador de um conhecido canal privado afirmava, em determinado momento: “Em Cuba não há liberdade de imprensa”. Ao que o entrevistado respondeu de pronto: “É verdade. Nem no Brasil. Aqui há liberdade de empresa: não de imprensa!”. Não preciso dizer que o assunto foi imediatamente trocado. Por que isso? Provavelmente até a própria entrevista sendo transmitida em uma hora tardia para espectadores comuns, já fosse indício de que alguma coisa acontece com intenção de não se atingir um determinado número de audiência talvez porque o tema não deva ser levado para um debate qualificado.

 Recentemente, postei em meu blogue (www.wenceslaugoncalves.blogspot.com.br) uma matéria que intitulei “Jornalista é bem remunerado?” e tive a petulância de encaminhá-la a diversos desses profissionais que escrevem diariamente em nossa mídia. Somente um deles retornou-me, sem comentários ou detalhes, dizendo, apenas, que era remunerado de acordo com o salário da categoria. Minha provocação (reconheço) devia-se ao fato de que nunca escutei nem assisti  em nossa mídia qualquer comentário – por mínimo que fosse – sobre a campanha salarial desses profissionais que era, então, encetada pelo sindicato da categoria quase em segredo, (ao menos para a mídia) sem qualquer divulgação . Isso seria um indício que existe uma “auto-censura” ou uma (como diria) “censura empresarial” na nossa imprensa?

 Devo confessar que não acredito em qualquer tipo de liberdade com monopólio. Seja político; seja econômico; seja de mídia. Hoje se pode afirmar que a “liberdade de mercado”, cantada em prosa e verso é uma balela. O poder financeiro dos grandes grupos econômicos “criam” e “destroem” mercados de acordo com seu interesse momentâneo.

 E dizem os entendidos que no Brasil – um País de 200 milhões de habitantes – a imprensa é controlada por quatro famílias. E eu acrescento: por mera coincidência elas estão entre as maiores fortunas do País e, consequentemente, do globo.

 Um dos grandes mestres da comunicação, o consagrado jornalista Mino Carta que tem uma longa história de lutas, afirma que o papel do jornalista obedece a três ditames: “fidelidade ao fato; espírito crítico e fiscalização do poder”. Sem dúvida, os dois primeiros são amplamente exercidos pela grande mídia, com as ressalvas de praxe. Digo eu: a grande questão é  em que termos se dá o primeiro sem que se transforme em  uma interpretação dele (jornalista), conduzindo o leitor a uma aceitação de acordo com a ideologia dominante, que é, obviamente, a dos empresários da comunicação (Os patrões). São estes que ditam as linhas de comportamento dos meios de comunicação que, no caso de monopólio, é única e incontestável. Senão vejamos: Por que determinados temas atingem a unanimidade entre os colunistas? Os que discordam são uma exceção, talvez para confirmar uma regra. Será que todos os comentaristas têm a mesma maneira de pensar, sobre o bolsa-família, por exemplo?  Ou todos expressam uma opinião que não é a deles, mas é a “oficial” da empresa? Leia três jornais do dia e veja como eles encaram um tema – geralmente polêmico – com a mesma opinião. E aqui há mais um quesito importante: notícia e opinião.  Essa simbiose, nem sempre detectada pelo leitor, acaba formando a “opinião pública” de acordo como é “fabricada” a notícia.

 Na verdade sou um apaixonado pelo tema da liberdade de imprensa. Eu o considero fundamental para o desenvolvimento de uma consciência crítica que nos possa conduzir  a uma sociedade igualitária ou, ao menos, não tão desigual como é hoje. Em minha modesta opinião, sem que as pessoas estejam em plena compreensão do que são legítimos direitos só pelo fato de serem gente, não conseguiremos alcançar o objetivo desejável.

 
Wenceslau Gonçalves, setembro/14)
(Publicado no Jornal Fronteira Meridional/Jaguarão – 01.10.14)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

MARTIM CÉSAR: DUPLO LANÇAMENTO EM PORTO ALEGRE

Poesia: "Sobre amores e outras utopias"
CD:      "Paisagem interior"

 No próximo dia 12 de setembro (sexta-feira), nosso conterrâneo Martim César Gonçalves estará realizando o lançamento, em Porto Alegre, de duas novas produções de sua autoria: o livro de poesias intitulado "Sobre amores e outras utopias" e um novo CD - "Paisagem interior". Esta última, em parceria com Marco Aurélio Vasconcelos (intérprete), Paulo Timm e Alessandro Gonçalves.

 O evento ocorrerá a partir das 20h, na Livraria Cultura, localizada no "Shopping Bourbon Country" e deverá contar com a presença de conterrâneos da COLÕNIA JAGUARENSE em Porto Alegre, além de outros admiradores da obra desse premiado autor jaguarense.

 AGENDE o programa e colabore na sua divulgação entre seus amigos e familiares.

D A T A:      12 de setembro de 2014 (sexta-feira)
HORÁRIO:   20h
LOCAL:        Livraria Cultura ("Shopping Bourbon Country")

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

FALANDO EM CULTURA FRONTEIRIÇA

Aldyr Schlee lança mais uma obra

O escritor jaguarense, Aldyr Garcia Schlee, realizou lançamento de mais um livro. O evento ocorreu na Livraria Palavraria, em Porto Alegre, no dia 7 de agosto, com a presença de inúmeros leitores entre os quais o cronista Luís Fernando Veríssimo e o escritor Luiz Antônio de Assis Brasil, Secretário da Cultura do Estado. 

 A obra, editada pela Editora Ardotempo, intitulada "Memórias de o que já não será" constitui-se de 16 contos tratando, com a maestria peculiar do autor, da temática que poderia ser resumida como "cultura-uruguaio-brasileira-fronteiriça".

 Essa característica marcante de suas obras tem a poder de desenvolver uma atenção para as coisas que fazem a cultura de um grupo específico locado em uma determinada região. Neste caso, de forma especial os habitantes da fronteira Brasil/Uruguay (Jaguarão/Rio Branco), incluindo pessoas com seus relacionamentos político-sociológicos com os fronteiriços. As histórias ou não-histórias ao estilo realismo fantástico se desenrolam através de uma linguagem atrativa, às vezes jocosa, onde o autor tem oportunidade de desenvolver sua criatividade a todo vapor. Os diálogos são ricos na oralidade própria da fronteira, onde o leitor jaguarense consegue identificar-se a si próprio e seus afins, sejam os de hoje, sejam os do seu passado. Como os demais livros de Schlee, este, também, é para ser relido e, sobretudo, um ótimo tema para uma roda de jaguarenses "no exterior".

 O importante, também, do aparecimento dessas produções que o autor tem-nos brindado é a contribuição que ele vem dando para o desenvolvimento de um "ambiente de cultura" em nossa Jaguarão. Pelo que posso acompanhar um pouco à distância reconheço que esse trabalho vem sendo desenvolvido com sucesso por um grupo de jaguarenses, apoiados por uma Administração que tem voltado seu interesse para este setor, não muito bem tratado pelos Poderes Públicos de um modo geral. Não quero citar nomes, porque poderia cometer a indelicadeza de esquecer alguém, mas esse grupo é constituído por pessoas conhecidas da comunidade em que estão inseridas. Vários eventos que tem ocorrido demonstram a realidade do que estou a afirmar.

 Schlee é um intelectual de grande produção. Além de traduções - como "Facundo civilização e barbárie", do uruguaio Domingos Sarmiento - ele  possui mais de uma dezena de obras, algumas com mais de uma edição. Entre estes, certamente, os mais conhecidos são os que surgiram primeiro: "Uma Terra Só", "Contos de Verdade" e "Contos de Sempre". E, pelo que sei, em breve teremos mais um livro, quem sabe ainda neste ano.  

 Além do ato de lançamento, o encontro valeu para os jaguarenses presentes, também, para uma longa e boa sessão "te lembras?"entremeada de "causos" dos tempos idos (Nisso o autor é um "craque") que serviram para aquecer a alma pois que a noite era "fria barbaridade", mas não teve poder para afugentar os admiradores do Schlee.

Porto Alegre, agosto 2014
Wenceslau Gonçalves.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

AS CRIANÇAS DE GAZA

(Para todas as crianças que foram e são vítimas de uma dessas guerras estúpidas que alguns criam para aumentarem o saldo de suas contas bancárias)

As crianças de Gaza
não saberão usar armas de brinquedo.
Elas morreram antes de aprender.

As crianças de Gaza
não dão mais preocupação para suas mães.
Agora elas não correm risco.

As crianças de Gaza
já não vão mais chorar pelos pais
que perecerem na guerra.
Elas morreram antes deles.

As crianças de Gaza
não vão mais aprender
a ler e escrever;
não vão mais correr;
não vão mais jogar bola;
não vão mais cantar;
não vão mais sorrir;
não vão mais chorar.
Nós as expulsamos da vida
muito cedo.

Não mandem brinquedos
nem doces
para as crianças de Gaza.
Elas não precisam mais.

E, por favor,
não rezem por elas.
Pelo que fizemos
ou pelo que deixamos fazer,
Os nossos deuses
não vão acreditar em nós!

domingo, 3 de agosto de 2014

JAGUARÃO ONTEM...OU ANTEONTEM

Uma escola de antigamente

 Nem sei bem se o título antigamente cabe para essa Escola. Fico em dúvida porque não tenho bem claro se 56 anos já se pode dizer que é "antigamente". Talvez não. Levando-se em conta que, de lá para cá, nossa expectativa de vida aumentou alguns anos. Mas, vamos ao assunto. Quero falar de uma antiga Escola de Datilografia que existiu em Jaguarão. Era dirigida pela senhora Azélia Pereira, mais conhecida por "tia Lica" e formou muitos datilógrafos na cidade. O curso era uma primeira providência para os jovens que almejassem obter alguma ocupação remunerada na área burocrática. Leve-se em conta, também, que o mercado de trabalho na época era muito restrito. Para quem não quisesse ou não pudesse sair da cidade, restava a opção da carreira militar, bancária ou um emprego público, que eram muito disputados.

 Eu fui um dos que acreditei que o primeiro passo para conseguir um bom empregao, era conhecer os segredos da datilografia. O interessante é que aquele curso me deu uma base tão importante que, até hoje, sou um bom digitador em um moderno computador (Modéstia a parte, lógico). Quando saí de Jaguarão (1965) fui exercer a minha primeira atividade em Porto Alegre como datilógrafo em uma autarquia federal. Eu, então, era o único que utilizava os "dez dedos" para executar minhas tarefas, o que faço até hoje, graças ao curso que frequentei na Escola de Datilografia Brasil, da tia Lica. Como podem observar, abaixo, tive direito até a "carteira de datilógrafo", comprovando que fui o segundo colocado no exame.

 A fotografia que ilustra este comentário foi tirada no dia 16 de dezembro de 1958, por ocasião da "formatura" da minha turma. Pelo que me lembro, de pé, da esquerda para a direita, estão os formandos Darci Canibal; Wenceslau; Enilda (?); Lena Fontoura e mais dois colegas que, lamentavelmente, não lembro o nome. Sentadas, estão as professoras  Leda Pereira; Azélia Pereira e Darcina Canibal.




domingo, 13 de julho de 2014

RELEMBRANÇAS

 Sempre que venho a Jaguarão e tenho tempo disponível, dou uma caminhada sem rumo pela cidade. Transito de preferência pelas ruas menos movimentadas, só ou bem acompanhado. Aproveito, nessas relembranças, para desafiar a saudade que, no túnel do tempo, me jogam ao passado e lá vão algumas décadas. Com isso retorno a alguns caminhos que pisei com os mesmos pés que tenho hoje, mas olhei com outros olhos - os de quem apenas começava a pensar em trilhar outras sendas deste mundão danado de grande para a cabeça de um guri de cidadezinha. Neste transitar pelo passado, vou recordando coisas que me trazem alegria ou mexem em cinzas do que não gostaria de lembrar.

 Mas não tinha intenção de falar de mim. Quero falar da cidade. Confesso que uso um truque contextual, digamos assim, para criar um clima de Jaguarão do passado. Em uma conversa, quando me refiro a algum local, falo como se tivesse voltado no tempo. Assim, explico algumas coisas: "Ali no centro, defronte à Farmácia Graciliano". Ou "perto da Miscelânea". Ou "bem pertinho da Confeitaria São José". Desse jeito, vou trazendo um pouco da história da cidade para rememoração daquilo que foi uma referência que todos conheciam.

 Em matéria de saudosismo e competência para transferir para a escrita a história do quotidiano da cidade, meu amigo José Alberto de Souza é a lembrança perfeita. Quem já leu qualquer de seus livros sabe do que estou falando. Quase a totalidade de sua obra conhecida, refere-se a sua vivência na cidade que leva no coração embora permaneça distante dela. Já disse no meu blogue que ele é "meu saudosista predileto" e meu parceiro de papos e reminiscências jaguarenses em longas tardes porto-alegrenses em torno de xícaras de cafezinho já vazias ou taças de bom vinho tinto.

 Há poucos dias, em um de meus passeios chamei a atenção de minha companheira para o fato de que Jaguarão é uma bela cidade com muitas coisas para mostrar aos visitantes, mas é uma cidade melancólica (De momento não encontro outro termo apropriado). Chegamos à conclusão que "a cidade das belas portas não abre suas janelas" como se as casas não fossem habitadas.

 Nessas minhas reminiscências e fantasias gosto de imaginar que, um dia. nossa cidade vai apresentar-se também cheia de cores, adornada das mais variadas flores e, então, nós e os nossos visitantes vamos ser cativados pela beleza natural que lhe estaremos proporcionando. No futuro, quero poder compará-la com Gramado. Falei desse meu sentimento com o Cléber Carvalho (um companheiro de muitas digressões de meus dias jaguarenses) mas ele não me acompanha nessa ideia. Entendo que a cidade serrana tem um pensamento coletivo mais aperfeiçoado do que o nosso, porém também tenho a esperança - quase uma convicção - de que essa fase de integração (por motivos vários) porquê passa Jaguarão deve conduzir-nos a uma mudança de comportamento. Isso nos há de trazer uma nova mentalidade que terá preocupações com a estética como forma de transmitir uma melhor acolhida aos que chegam aqui procurando nosssas características próprias.

 Eu passarei. Nós passaremos. Jaguarão permanecerá, acompanhando o tempo, mas guardando a nostalgia de uma antiga povoação com seus traços coloniais cheios de mensagens dos que aqui estiveram antes de nós. Nosso compromisso deve ser o de conservá-las para aqueles que vierem depois de nós.

Wenceslau Gonçalves - Jaguarão, junho/14
Publicado no Jornal Fronteira Meridional - 09.07.14)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

GUERRILHA URBANA

 A batalha estava por iniciar. A ordem era limpar o terreno a qualquer custo. Primeiro chegaram os sapadores para observar a área. Repararam em tudo com olho clínico de quem tem longa experiência no assunto. Não eram muitos. Dois ou três que quase se confundiam com a sombra que projetavam alguns edifícios próximos. Vagaram por alguns minutos entre o pouco que restava a ser destruído e se foram. A conclusão era a de que não necessitariam de um efetivo militar muito grande. Por certo, já confabulavam entre si, arquitetando um infalível plano de ataque.

 No dia seguinte, chegaram os monstros de aço aos quais não se poderia oferecer resistência. Eram dois. Um era enorme e possuía duas grandes mandíbulas. Uma, com tridentada e ameaçadora garra comprida e de longo alcance e, outra, menor, que apenas lhe servia de cobertura. O outro monstro é apenas conivente. Comparando, ele é, apenas, um monstrinho. Chega ao local e se imobiliza. É dos que somente aguarda que o primeiro lhe entregue o produto da destruição e parte rápido para voltar logo depois. Ambos são barulhentos - produtos do mundo moderno - e enegrecidos pelo próprio fumo que expelem. E, assim, começa a batalha. O inimigo é cercado por todos os lados. Sua única defesa é o conhecimento do terreno. Nasceu e viveu há muito tempo ali. Ninguém, como ele, sabe de suas nuances e possibilidades. É, inutilmente, ajudado pela umidade e pelos sais minerais que seguram suas raízes entranhadas na terra. A sua cor verde já tem bastante do resquício da civilização que o circunda. Já pariu muitos frutos e acolheu muitos pássaros com seus membros fortes. No inverno, abrigou-os do frio; no verão, apaziguou-lhes o calor. Cumpria sua missão com galhardia. A resistência, no entanto, é inglória porque sua desvantagem é gritante: contra ele há todo o progresso de vinte séculos de civilização que não reconhece nenhum direito adquirido para resistir os obstáculos em sua caminhada.

 A batalha continua. Pouco a pouco, o terreno cede à ação dos monstros e deixa o inimigo só, sem seus aliados. Agora é sua vez de sucumbir. Estremece. Tremulam seus galhos e folhas. Cai o último ninho que ainda resistia e ela própria aspira seu último quinhão de oxigênio e cai prostrada na terra que, há pouco, ainda lhe transmitia a seiva vital para sua existência. É, apenas, mais uma árvore que tomba em uma grande metrópole. Não vai nem participar das estatísticas!

(Wenceslau Gonçalves/ Publicado no jornal Fronteira Meridional, de Jaguarão em 21.05.14)

quarta-feira, 25 de junho de 2014

JAGUARÃO - BOAS NOTÍCIAS

Mercado Público

 Servindo-me de matéria do Jornal Fronteira Meridional, datada de 18/06/14, prazerosamente posso anunciar aos meus leitores uma boa notícia para nós, jaguarenses.

 No dia 14 último foi dado início à concretização de um dos projetos mais importantes para a cidade em termos de preservação de nosso patrimônio cultural. Com a presença de autoridades, o Prefeito Municipal, Cláudio Martins, procedeu à assinatura do contrato com a empresa Marsou, que executará as obras de restauração do Mercado Público de Jaguarão, que se encontra desativado.

 Nosso Mercado foi aberto em 1867 com a finalidade de servir à população através da exposição e venda de mercadorias produzidas aqui e as provenientes de outros municípios que, aportavam, principalmente, através do rio Jaguarão. Segundo o Executivo, as obras estarão concluídas em um período de doze meses, estando orçadas em R$4.501.804,74. Isto significa que, no próximo ano, já poderemos estar usufruindo do local, quem sabe, até incluindo naquele espaço alguma atividade cultural, como, aliás, é de praxe em outras cidades. Aguardemos!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

PRODUÇÃO DE AUTOR PREGUIÇOSO

Microconto de humor
No dia dos namorados, recebendo o presente, dizia aquela esquimoa para o noivo: "Ah não! Picolé de novo, não!"

Micropoesia
Primavera:
pisando nas flores
a morte
colore a calçada.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

UMA HOMENAGEM

Recebemos, do conterrâneo Pedro Azevedo, um pedido para reproduzir um de seus trabalhos dentre os tantos com que ele tem ilustrado a imprensa de Jaguarão. Assim, nos associamos, também, às merecidas homenagens que são prestadas à conhecida figura do "Chaguinhas", que dedicou sua vida à radiodifusão em nossa cidade.
Transcrição do artigo de Pedro Fagundes Azevedo, ex-gerente da Rádio Cultura, antiga ZYU-7, publicado no jornal A Folha de Jaguarão, em 29/05/2014

Foi com pesarosa surpresa que tomei conhecimento, pela leitura de Zero Hora, que João Carlos Chagas, o nosso bom Chaguinhas, passou para o plano espiritual de repente, sem poder avisar nada a ninguém. Da última em vez que o encontrei, no início deste ano, ele estava na porta de A Folha, onde tinha ido renovar sua assinatura. E ficou tão emocionado quando me viu - pois agora raramente venho a Jaguarão - que seus olhos encheram-se de lágrimas quando nos abraçamos. Acho até que ele pensava que eu já tinha morrido e me vendo assim, subitamente, vivinho da silva, não pode conter a legítima emoção.
O fato é que toda minha família de origem - com exceção da mana Zilda Noêmia, professora de Matemática - teve o privilégio de trabalhar ao lado do Chagas, nos seus quase 40 anos de Rádio Cultura. A começar pelo meu pai, Amadeu Azevedo, que na condição de um dos fundadores e gerente da emissora, o admitiu no início dos anos 50, em substituição ao Mena, outro bom sonoplasta que deixou a rádio para se dedicar às lides do campo. Depois, no decorrer do tempo, vieram o Paulinho e a Alda Maria, meus irmãos, como locutores; a mamãe Alda, como gerente; a também gerente Oswaldina, a quem carinhosamente chamávamos Dininha, nossa irmã de criação. E eu, como locutor e gerente, de 1954 a 1957.
O mais importante de tudo é que durante tanto tempo de convívio, o Chagas jamais o mudou o seu tratamento conosco. Foi um colega e amigo leal, sempre de bom humor, procurando ajudar em tudo o que estivesse ao seu alcance, principalmente os que eram iniciantes na profissão. Tenho certeza que nunca puxou o tapete de ninguém, prática que infelizmente era comum no meio radiofônico, pois absolutamente não era esse o seu modo de pensar e de agir. Ao longo da vida, fez uma constante semeadura de boas ações, no âmbito profissional e também no particular, pois foi sempre um bom marido e um bom pai, preferindo educar pelo exemplo. E como, segundo o Evangelho, cada um colhe o que semeia, ele deve estar agora em situação privilegiada no plano espiritual.
Para terminar, mais uma lembrança inesquecível do convívio com o Chagas. Foi numa noite fria, com vento e chuva, em pleno mês de julho, quando o relógio da Rádio Cultura marcava dez horas da noite e começava o “Jornal Sonoro da Fábrica de Fumos Mauá”, de Moura Coelho e Companhia, fabricante do Fumo São Francisco Amarelinho. O locutor tinha combinado de fazer o comercial ao vivo, em parceria com um amigo que visitava a rádio. Assim, ao interromper a leitura das noticias, ele perguntava: “Aceita um cigarro feito?” E o outro respondia: - “Não, obrigado. Eu só fumo São Francisco Amarelinho da Fábrica de Fumos Mauá”. (Era um costume antigo, o de preparar o cigarro na hora, pelo próprio interessado, enrolando o fumo num pequeno pedaço de papel seda retangular, destacado do bloquinho da marca Colomy. Já os “cigarros feitos” tinham as marcas Elmo, Belmonte, Arizona, etc).
Mas, o amigo visitante, distraído, cevando um bom mate, esqueceu-se de que estava no ar e, ao ser perguntado pelo locutor se aceitava um cigarro feito, respondeu: “Olha, eu vou aceitar!…” E acabou com o comercial. Seguem-se alguns segundos de perplexidade, sem ninguém saber o que dizer e aí o Chaguinhas, rápido, encontra a solução: bota no ar a rancheira Mate Amargo, encerrando a edição do noticioso sob risos gerais… Felizmente, os patrocinadores eram nossos compadres.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

"PRODUÇÃO DE AUTOR PREGUIÇOSO"

MICROCONTO
(Para Carlos Eduardo Machado)

Uma certa vez na antiguidade, três homens discutiam. Um era sábio; outro era comerciante e, outro, era louco. Quando descobriram que nunca chegariam a um acordo em suas discussões, acabaram inventando a política.

MICROPOESIA
(Na verdade um haicai no modelo clássico: 17 sílabas/5-7-5)

Escutando bem:
entre as canções alegres
há um suspiro

domingo, 4 de maio de 2014



O COLIBRI DE ARAMBARÉ

   A tarde é linda, enfeitada com as cores do outono como costumam ser os dias de abril. O sol ilumina tudo com seu calor e aquece os bons e os maus como é sua missão desde que foi idealizado (Por quem ou porquê não vem ao caso agora). O colibri esvoaça, beijando flores como fizeram seus ancestrais desde o início.  A sua liberdade de voar é infinita. Seu limite é apenas o que faz cansar suas asas no incessante bater a procura do néctar que sustenta sua sobrevivência. Isto ao menos até que os humanos inventassem os muros e as vidraças que refletem cores e não-cores. Foi o que aconteceu com aquele que foi chocar-se com a parede da casa que alguém colocou em seu itinerário secular. Talvez o mesmo que, em outras vezes já a havia invadido  em alguns vôos equivocados que acabaram em extenuantes tentativas de reverter a situação até que voltassem aos seus caminhos aéreos desconhecidos dos humanos.

    Após o choque, ele estremece e cai no solo, permanecendo em estado de imobilidade que se confunde com a morte ou quase isso. Há uma mão abençoada que o acolhe e o abriga para que se recupere. Ao que parece há pouca esperança, mas mesmo assim, quem sabe a força positiva do desejo para que supere o trauma, funcione e ele se recupere. Há expectativa e dúvidas de outros humanos que acodem para torcer pelo melhor. As sugestões surgem e variam do útil ao fantasioso . Uma delas é que se dê um tratamento humano ao “serzinho” que, agora, descansa na mão que o acolheu e o mantém protegido, dando-lhe o carinho que imagina necessário para resolver o problema. A terapia é um “spray” utilizado para casos doloridos, aplicado na parte que julgam mais atingida.  Assim é feito. O efeito esperado é imediato – coincidente ou não – e, de inopino, o pássaro voa rápido e livre para o espaço indo pousar na figueira próxima. De lá, ele contempla o grupo que há pouco dedicava sua atenção  ao prosaico probleminha de um pequeno pássaro entre os milhões que povoam nosso planeta. É uma gota no oceano imenso; é um grão de areia no deserto; é tudo o quiserem de mínimo ante tudo o que nos cerca, mas a satisfação de ver o resultado é imensurável. Certamente merece muito mais do que um simples comentário deste escriba quase anônimo em nossa internet povoada de doutores e sábios.


(Arambaré, maio/2014)



domingo, 27 de abril de 2014

COLÔNIA JAGUARENSE

Nosso Encontro de Abril

Conforme estava previsto, realizou-se hoje, 27 de abril de 2014, o Encontro da Colônia Jaguarense. Foi o primeiro deste ano e esperamos ter a oportunidade de nos reunirmos outras vezes em 2014. O almoço aconteceu no Restaurante Grelha do Porto e contou com a participação de 42 conterrâneos que mantiveram uma saudável confraternização. O assunto mais frequente, como todos sabem, é Jaguarão e os jaguarenses. Embora o número de presentes fosse relativamente pequeno, desta vez, tivemos a satisfação de ter a presença de pessoas que ainda não haviam participado de nossas reuniões.

Se não esteve presente desta vez, atenda ao convite que receberá para o próximo. Convide um outro conterrâneo.































Veja alguns flagrantes colhidos durante o Encontro.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

VINTE CINCO DE ABRIL

(Incompleto) Dedicado a Fernanda e ao Luís (hoje pelo duplo significado da data. Eles sabem porquê) e a todos seus amigos de "além-mar". Pelo que foram e pelo que são hoje: Tânia, Pedro, João, Cris, Nuno, Julie e alguns outros que possa ter esquecido no momento.

A liberdade
tem apenas um nome:
LIBERDADE.
Não precisa - nem merece - apelidos.
Nem subterfúgios
para figurar no vocabulário dos povos.
Quando houver dúvida,
ela não avança.
Quando houver censura,
ela é uma farsa.
Quando houver restrições,
ela não viceja.
Quando houver injustiça,
ela não existe.
Quando não houver liberdade.
ela não é.


quarta-feira, 16 de abril de 2014

COLÔNIA JAGUARENSE

Primeira reunião de 2014

 Neste mês estará ocorrendo a primeira reunião de 2014 da Colônia Jaguarense em Porto Alegre. Nesta data, estivemos reunidos, tendo sido deliberado que será realizado almoço de confraternização no mesmo local em que ocorreram os encontros do ano passado. Considere-se que o conhecido Restaurante Grelha do Porto tem atendido às exigências dos conterrâneos. Está bem localizado, com fácil acesso e, ainda, há o acréscimo de ter um estacionamento sem custo para os usuários.

 Voltamos a enfatizar a necessidade de que as pessoas que tiverem acesso aos convites (por meio eletrônico ou por telefone) de divulgarem o evento entre seus conhecidos e familiares para propiciar o comparecimento de um maior número de conterrâneos. A chamada "Comissão Organizadora" dos encontros é composta de, apenas, quatro pessoas e, embora com esforço, não consegue abranger o universo de todos os jaguarenses moradores da Grande Porto Alegre. O comparecimento, no ano passado, atingiu uma média provável de 60 pessoas, embora saibamos que o número de interessados é maior mas, infelizmente, alguns não têm tido conhecimento de nossos encontros.

 Até dia 27, domingo. Aguardamos vocês para mais um fraterno encontro dos jaguarenses!

Data:   27 de abril de 2014
Hora:   a partir das 11h
Local:  Restaurante Grelha do Porto
            Av. José de Alencar, 1057 - Menino Deus (Defronte ao antigo Supermercado Castelão)
Preço:  R$28,00 por pessoa (não incluido qualquer tipo de bebida)

Confirmações: Ana Maria (9683.8018 ou 8414.7340) - Geraldo (9668.7852) - José Alberto de Souza (3233.4799) - Wenceslau (9984.7379 ou 3221.2851)
                       

quarta-feira, 9 de abril de 2014

'SEM COMENTÁRIOS'

Ato Institucional n. 1

 A princípio pensei que apenas transcreveria o texto do malfadado ato, deixando que que cada leitor pudesse tirar suas conclusões conforme sua visão de mundo, a partir da leitura do documento emitido pelos militares que detinham o poder, em 9 de abril de 1964, há exatos cinquenta anos, portanto.

 O mencionado "diploma legal" foi o início de todas outras tentativas de legalizar o golpe que havia sido concretizado há poucos dias. Em sua justificativa, afirmava: "A revolução vitoriosa se investe no exercício do Poder Constituinte. Este se manifesta pela ELEIÇÃO POPULAR ou pela REVOLUÇÃO" (Os grifos são meus). Só que partiu de uma falsa premissa qual seja a de que teria havido uma revolução no País.  Na verdade, não houve nenhuma revolução, sociologicamente falando. Ainda hoje há controvérsias em relação até mesmo ao movimento de 30, com a tomada do poder por Getúlio Vargas. Para que isso tivesse ocorrido, seria necessário que as estruturas que compunham a sociedade de então, houvessem sofrido uma mudança, o que não aconteceu. Elas permanecem as mesmas até hoje.  Nem mesmo um governo dito popular, eleito, democraticamente, por maioria absoluta como o que hoje lidera a administração pública, conseguiu modificá-las. Infelizmente!

 Não tivemos condições, até hoje, de executar as reformas de base que o Brasil necessita para sair da condição de país rico, mas de povo pobre. Os mesmos grupos que continuam mantendo sua supremacia em nível internacional (Parte deles contribuiu para o golpe), mesmo após mais um fracasso do sistema capitalista, continua ditando regras e o mundo todo continua impotente para enfrentá-lo. O que acontece, em pequena escala, são nichos incipientes que se debatem mas pouco conseguem ante um poderio econômico-financeiro que impõe as regras que são apenas de seu interesse. É só dar uma olhada no noticiário político internacional, com visão crítica, para nos darmos conta da luta desesperada que encetam determinados segmentos para livrarem-se do jugo dos poderosos. Para manter o status quo, milhões de vidas são sacrificadas todos os anos. Os focos de pequenas guerras no cenário mundial são mantidos e incentivados não só para estimular a indústria bélica de países opressores como, também, para que alguns destes continuem exercendo sua hegemonia em territórios geralmente atrativos em termos econômicos ou possuidores de riquezas potencialmente exploráveis.

 Voltando ao Ato Institucional n. 1, de 9 de abril de 1964, destaco algumas disposições para os que ainda desconhecem o texto:

 "Ficam suspensas, por 6 (seis)  meses, as garantias constitucionais ou legais de vitaliciedade e estabilidade" (Art. 7.)

 "O controle jurisdicional desses atos limitar-se-á ao exame de formalidades extrínsecas, vedada a apreciação dos fatos que o motivaram, bem como da sua conveniência ou oportunidade" (Art. 7, parágrafo 4.)

 "No interesse da paz e da honra nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, os Comandantes-em-Chefe, que editam o presente Ato, poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de 10 (dez) anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos." (Art. 10).

 Com base no art. 10 dessa excrecência jurídica, já nesta data, iniciou-se uma longa série de cassações, com 102 pessoas privadas de seus direitos políticos, sem qualquer possibilidade de defesa ou manifestação, entre as quais os ex-presidentes Jânio Quadros e João Goulart; o deputado Rubens Paiva (cujo corpo até hoje encontra-se em local desconhecido) e o economista Celso Furtado, para mencionar alguns dentre os mais conhecidos.

 Sem querer, acabei encontrando um título em consonância com a reação que deveria ser tomada na época, já mergulhados no regime do medo, ao tomar-se conhecimento daquele Ato: "sem comentários!"

 

terça-feira, 1 de abril de 2014

ONDE ESTÁVAMOS EM PRIMEIRO DE ABRIL DE 1964?

 Não há nada para comemorar, mas tudo para relembrar. Isto deve, ao menos, ser feito em respeito aos que foram expulsos do País, torturados ou mortos pela repressão. Aos que resistiram em nome da liberdade de todos nós, até mesmo daqueles que concordavam (e concordam) com os desmandos que se praticava.

 O golpe de 64, que condenou o Brasil a uma longa noite de 21 anos, também impediu o surgimento de novas lideranças políticas que poderiam ter sido cultivadas nesse longo período de imposição de silêncios e de vozes apenas murmuradas. Até hoje o Brasil não se recuperou do atraso social e político imposto pela ditadura. As manifestações culturais, se não tivessem a chancela dos poderosos, através de seus sensores, eram simplesmente proibidas. Temos inúmeros exemplos em todos os setores das artes e da literatura.

 De minhas memórias pessoais, tenho lembrança de alguns fatos que marcaram, de forma indelével, minha trajetória inicial aqui na cidade grande. Um deles é o de uma livraria sendo violada (Cabe o termo, eu acho!) em plena luz do dia. Em uma das vias mais centrais da Capital (Andrade Neves), alguns representantes dos donos da verdade jogavam pela janela para o leito da rua as obras que, na sua tacanhez, consideravam perigosas para os cidadãos comuns. Outro fato foi a invasão de uma casa modesta, vizinha a minha no bairro Glória, pelos brigadianos do antigo GOE. Naquela época, eles portavam capacetes vermelhos e espalhavam terror quando eram chamados para conter manifestações estudantis que ocorriam, geralmente, no campus central da UFRGS. Lembro, também, de uma insinuação autoritária emitida por um representante de uma multinacional do ramo de máquinas quando exercia um cargo público no qual iria, mais tarde, aposentar-me. Ao "flagrar-me" tecendo uma crítica à ação das malfadadas multinacionais que pululavam pelo País, ele me encarou de maneira autoritária, dizendo-me: "Cuidado que podes perder o teu emprego"...Isso que ele não era o "guarda da esquina" e não vestia nenhum tipo de farda!

 Na noite de primeiro de abril de 1964, ainda em Jaguarão, eu estava entrando em aula quando fui alertado por um colega de trabalho que nosso chefe (Agrônomo Regional de Jaguarão naquela época, hoje falecido) havia sido preso e encontrava-se detido na Enfermaria, transformada em local de interrogatórios de "subversivos", sob a coordenação do temido DOPS (famoso por seus métodos de tortura). A acusação era a de que ele se relacionava com um orizicultor que seria comunista. Aquela pessoa, realmente, costumava visitar-nos no escritório e dele, muitas vezes, ouvi afirmativas nacionalistas em longas análises políticas e econômicas que costumava fazer entre a fumaceira de um cigarro e outro. Após um rápido raciocínio e, por medida preventiva, saí do colégio e corri ao meu local de trabalho em busca de algum livro que pudesse despertar a ira dos inquisidores de plantão na cidade. De fato, entre os meus preferidos que lá estavam, encontrava-se uma importante obra de um conhecido autor nacionalista - Gondin da Fonseca - que alertava para os interesses econômicos estrangeiros que rondavam nosso País. Hoje, aquele livro, já esgotado, não se encontra na minha modesta biblioteca, infelizmente. Não lembro o que fiz dele. Certamente não teve o mesmo fim que dei a algumas revistas chinesas em Esperanto (El Popola  Cinio) cuja assinatura vinha através da Itália por motivos óbvios.

 O golpe de 64, portanto, encontrou-me, no vigor dos meus dezenove anos, atuando em várias entidades em Jaguarão: Círculo Operário, Aeroclube, Interact, entre outras. Na área estudantil, se não me falha a memória, ocupava o cargo de Secretário do Ensino Comercial na União Jaguarense dos Estudantes Secundaristas na qual, mais tarde, ocuparia a presidência.

 Em Porto Alegre, aonde cheguei em dezembro de 1965, a minha atividade cultural foi dirigida ao cineclubismo, no qual fiz parte das Diretorias do Cineclube Pro Deo, da Federação Gaúcha e do Conselho Nacional. Naqueles anos, tínhamos dificuldade em exibir alguns filmes considerados "subversivos". Às vezes, as sessões começavam sem que se soubesse se seriam interrompidas ou não.

 Inicialmente, na minha vida profissional era comum a realização de trabalhos à noite. Como a sede da Sudesul estava localizada na Rua da Praia muitas vezes éramos envolvidos em alguma correria com a Polícia querendo experimentar a resistência da madeira contra a carne humana.

 O movimento liderado por militares contou com o apoio de lideranças políticas civis reconhecidas por suas posições direitistas. A Igreja e a mídia foram, também, esteio importante para os golpistas. A imprensa, naquele período, nem mencionava - como hoje faz - a palavra "golpe" quanto mais insinuar qualquer coisa que desabonasse os generais de então. Acrescente-se a isso o apoio institucional dos Estados Unidos que, aliás, tem larga experiência em golpes, graças a sua participação nos que ocorreram não só na América Latina como em tantos outros países.

 Mesmo depois do sacrifício de pessoas que perderam suas próprias vidas para que o País fosse melhor para todos, as reformas de base tão necessárias não se concretizaram. Só elas poderão conduzir o Brasil ao completo desenvolvimento. São condição indispensável para atingirmos a igualdade própria de um País plenamente democrático. Em alguns aspectos, talvez estejamos na Idade Média. Na distribuição de renda, por exemplo, ainda somos medievais: um dia do maior salário (Ministro do STF) equivale a 60 dias do menor salário (operário sem qualificação). Isto sem apontar outras vantagens que estes não têm. Não há como justificar tamanha desigualdade.

 Se somos um país pobre, todos devem pagar por isso; se somos um país rico, todos temos direito de beneficiarmo-nos dessa riqueza. Sem diferenças amazônicas.

terça-feira, 18 de março de 2014

JAGUARÃO "FRANCO"?

  O título jocoso é mais para revelar minha surpresa com uma nota, publicada no Jornal do Comércio de hoje - 18 de março de 2014 -, intitulada "Jaguarão", noticiando a existência de um projeto de lei (1081/03), tramitando na Câmara dos Deputados, de autoria do deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB/RS), propondo a criação de uma área de livre comércio na cidade de Jaguarão. A proposta estabelece isenção de imposto de Importação e IPI.

  O projeto já foi aprovado na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia e está sendo encaminhado para análise das Comissões de Finanças e Tributação e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

  Segundo a nota, a tramitação tem caráter conclusivo e, portanto, depende apenas de decisão nas Comissões dispensando sua apreciação em plenário. Não esclarece se, também, depende de aprovação  do Senado nessas mesmas condições. Confesso minha ignorância em matéria de Regimento Interno do Congresso Nacional, mas é um detalhe que pode ser averiguado.

  Parece-me que o inusitado da questão é que já existe uma em lei em vigor estabelecendo um regime especial de comércio para as chamadas "cidades gêmeas" no Brasil que, conforme é sabido, está sendo regulamentada na área da Receita Federal há mais de um ano. Surge, agora, uma lei que, se aprovada, beneficiaria apenas a cidade de Jaguarão! Qual delas valeria no caso de aprovação de duas leis? Ou não são concorrentes nem se sobrepõem?  Vamos procurar respostas para esses questionamentos e outros mais que surgirem.

terça-feira, 11 de março de 2014

JORNALISTA É BEM REMUNERADO?

 A pergunta me ocorre a propósito de um fato que venho observando na mídia local. Embora as lideranças dessa categoria venham realizando campanha salarial, não vi, até hoje, nenhuma menção ao assunto em qualquer um de nossos dinâmicos veículos de comunicação, quer sejam da imprensa falada, escrita ou televisionada. Bem, em nenhum estou exagerando: vi uma "microentrevista" sobre o tema no canal de televisão estatal, no final do ano passado, com um membro do Sindicato dos Jornalistas, cujo nome e cargo não guardei na memória. Assisti, também, a uma pequena passeata , em um domingo no brique da Redenção, pareceu-me que, na sua maioria, constituída de estudantes universitários de jornalismo. Eles distribuíam panfletos e portavam uma faixa com os dizeres "Sem jornalista não tem notícia" (sic).

 Pensei que tomaria conhecimento de alguma menção em jornal, rádio ou tv, sobre o temário ou conclusões de um recente "congresso estadual de jornalismo", do qual tive ciência através de uma nota de apenas nove "magras linhas" em um diário da Capital. Segundo aquela notícia o evento deve ter ocorrido nos dias sete e oito deste mês, nas dependências da Câmara de Vereadores.

 De uma maneira geral quando uma categoria se sente prejudicada a primeira providência é divulgar suas reivindicações, dentro do possível, através dos meios de comunicação. Não vi isso ocorrer em relação às demandas dos jornalistas/radialistas (Se é que existem, é óbvio!). É lógico pressupor, portanto, que esses profissionais - na sua ampla maioria, ao menos - devem ser muito bem remunerados e suas condições de trabalho também devem ser excelentes que dispensam qualquer tipo de reivindicação. Ou, ainda, que não concordam em nada do que pensam seus representantes legais. E concluo isso porque não passa pela minha cabeça que eles possam praticar auto-censura ou que sejam impedidos de manifestarem-se sobre o assunto pelos empresários do setor.

 Não é demais acrescentar, também, que a grande maioria (ou todos?) dos âncoras, que ouço em programas diários que sintonizo, sempre ressaltam o caráter incontestável de liberdade de expressão seguido por toda a mídia do Estado, assim como pela imprensa nacional.

 Não sei qual é a posição daqueles poucos que me acompanham neste espaço, mas eu tenho, no mínimo, curiosidade para saber qual é o "tabu" (se existir) que envolveria o caso de um grupo de profissionais da imprensa expressando seu "sagrado direito" de manifestação em um País onde se pratica a plena liberdade de imprensa, tão apregoada nas democracias!

sábado, 8 de março de 2014

OITO DE MARÇO

Falando em mulher

 Em homenagem às minhas leitoras, pela  data, lembrei-me de buscar as palavras sensíveis de um inspirado poeta jaguarense.  Tomei emprestada - imaginando que teria sua permissão - uma poesia de José Paulo Nobre.O autor, atualmente morando em Rio Grande, foi meu contemporâneo em Jaguarão quando frequentávamos os bancos escolares do hoje segundo grau. Já naquele tempo (lá pelos idos de 1962 se não me falha a memória) o "Zé Paulo" nos brindava com sua inspiração, inclusive com algumas produções lidas em apresentações que costumavam ocorrer no Theatro Esperança ou no Círculo Operário, ou até mesmo publicadas no "mural" (lembram?) da então Escola Técnica de Comércio (curso noturno). Sua obra é vasta e dela tenho comigo uma publicação lançada em Porto Alegre, em 1998, intitulada "Um milagre chamado poesia", da qual extraí a poesia que hoje estou publicando.

                                                         A mulher que a gente ama
                                                                               (José Paulo Nobre)

A mulher que a gente ama,
é como o universo:
A gente quer
saber-lhe todos os mistérios,
arrebatar-lhe todas as distâncias
e unir todas as galáxias,
da esperança à certeza,
Nave-Luz em viagem sideral
do corpo à alma...

A mulher que a gente ama,
é como a Poesia:
a gente quer escrevê-la toda
e estar em cada frase
e em cada compasso,
como se fosse vital
o não apenas Ser
mas o intrinsicamente Estar...

A mulher que a gente ama,
é como uma Árvore:
a gente quer
que dê flores e frutos
e quer sua sombra,
seu verde e seu porte...
Sombra para acalmar
sóis de ávidas andanças;
verde, para alimentar
o dia-a-dia com sua força
e o porte para nos manter
sempre acima dos próprios sonhos...

A mulher que a gente ama,
é como uma Estrada:
a gente quer percorrê-la toda...
conhecer-lhe todos os meandros...
adivinhar-lhe todas as curvas
e estender-se em suas retas...
buscar atalhos
e amar sua propensão
a chegadas repentinas
e encontros em fins de tarde...

A mulher que a gente ama,
é como uma Casa:
a gente quer morar nela...
conhecer-lhe todas as dependências
e habitar-lhe cada sala,
cada corredor, cada quarto
e abrigar-se nela
e, nela, saber-se em paz...

A mulher que a gente ama,
é como o Nascer e o Por do Sol...
é como um Rio sem Corredeiras...
é como um imenso Lago
de águas sempre tranquilas...
mas, se for, por acaso,
como um Encapelado Mar,
haveremos de navegá-lo
em segurança,
Marinheiros da Ternura
Capitaneando a Ânsia,
até alcançarmos o bendito porto
do Encontro Total...

(In Um milagre chamado poesia, 1a. ed., Pelotas, Livraria Mundial, l997 - pág. 48)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

COLÔNIA JAGUARENSE

Último encontro de 2013

 Devo um pedido de desculpas aos meus conterrâneos da Colônia Jaguarense em Porto Alegre. Na verdade, devo dividir minha falha com a internet, que se negou, em algumas vezes, a funcionar na minha praia. Em todo caso, antes tarde do que nunca, diz o antigo ditado. Aqui vão, portanto, algumas imagens de nosso último encontro de 2013, realizado em 8 de dezembro. Esperamos que, em 2014, possamos nos reunir em outros fraternos convívios.