segunda-feira, 26 de setembro de 2011

P A I N E L

MORDÁGIO - É uma forma leve que utilizo para me referir à exploração que sou submetido cada vez que percorro os 388km que separam Porto Alegre de Jaguarão. As condições da rodovia melhoraram? Sim. Não dá para negar. Mas...não na sua totalidade e não na proporção do que pagamos para isso. É o mais caro pedágio do País. Triste herança do governo Brito, que nos legou contratos desfavoráveis ao Estado o pedágio nos suga descaradamente. Quem não concordar que transite no trecho Arroio Grande-Jaguarão e me conte se "aquilo" vale a taxa que pagamos! E eles ainda queriam prorrogação dos contratos sem licitação. Lembram?

SIM, MEU AMO - Nas manchetes a "concessão magnânima" que o excelso rei machista da Arábia Saudita concedeu as suas súditas: "Agora vocês poderão votar em eleições municipais. Por enquanto, não podem ainda mostrar o rosto, nem dirigirem automóveis. Ah, e se quiserem viajar ou fazer alguma cirurgia, vão ter que continuar pedindo licença a seus amados esposos, que são os que têm condições de pensarem por vocês. Afinal, vocês são apenas mulheres e precisam ir evoluindo aos poucos"!!! Desculpem a ironia e o desabafo. Essas coisas fazem meu envelhecido sangue ferver. Estamos no século XXI e ainda temos que conviver com isso! Até quando?

PALESTINA - A questão da Palestina, nos traz novamente à discussão, no meu entender, a disposição esdrúxula de poder de veto de alguns de seus privilegiados membros. Afinal, que diabo de entidade é essa que uns países são mais "países" que outros? A ONU precisa decidir se é uma entidade representativa igualitária ou, apenas, serve de respaldo para os desmandos cometidos pelas potências nucleares. São 193 nações, se não estou equivocado, "independentes" que "dependem" da vontade de um dos cinco que têm poder de tomar uma decisão que, teoricamente, contraria o pensamento dos outros 188!  Estou errado?    

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

CARTA PARA UM SOBRINHO

 João Thomaz:

 (Como se dizia antigamente): "Começo estas mal traçadas linhas" depois que deixei passar alguns dias da tua formatura, que ocorreu em Bagé, quando recebestes teu canudo de médico-veterinário. Fiz isso, para não me deixar enredar muito pelo entusiasmo sentimental de ver um guri, que há pouco ainda andava pelo colo da gente - "salamero" por demasia - encantando com a simpatia os parentes e amigos dos meus compadres.

 Hoje, que já estás taludo, graças a nossa convivência, sabes um pouco do que penso e eu sei um pouco de como pensas. Não estou te dando um conselho; é apenas uma reflexão conjunta entre um jovem - que eu reconheço como cheio de ideias e ideais - e um madurão com algumas horas de passagem pelo mundo.

 A profissão que escolhestes, em uma terra em que bilhões sofrem de fome constante, representa, cada vez mais, uma responsabilidade de contribuir para varrer essa chaga que deveria envergonhar os que convivem com ela. É verdade que não basta apenas produzir alimento suficiente para todos;  é preciso que, acima do interesse econômico, exista vontade política de solucionar o problema e, tudo indica, ela surge episodicamente mas não consegue prosperar. Se vivemos em um País e, particularmente, em um Estado, onde a pecuária é tão importante, é justo que um maior número de pessoas desfrute de seus benefícios e sabemos que isso não acontece.  Penso que terá sido em vão todos os esforços para que uma ciência avance se isso não visar à melhoria da vida das pessoas, independente de sua situação financeira. Desenvolvimento que não é para todos é, apenas, mais uma forma de acúmulo de riqueza.  Tens uma tarefa árdua pela frente se quiseres dar tua contribuição para uma mudança.

 João Thomaz, ocorrerão momentos em tua carreira que terás dúvidas. Não falo das técnicas, porque para essas poderás recorrer aos melhores compêndios; falo daquelas em que terás que consultar a tua formação, a tua ética profissional e a tua consciência. Como em qualquer setor da atividade humana, na ciência também não há neutralidade. Tomar posição é privilégio e ônus dos seres pensantes. Os mais preparados para tomarem as decisões certas serão aqueles que melhor tiverem desenvolvido seu sentimento de coletividade.

 Fico por aqui. Sou parceiro numa torcida em que, por certo, há muitos componentes, que pensam das mais variadas formas mas, todos eles, com certeza, apostam em que sempre hás de optar pelo que for melhor para os que confiarem na tua aptidão e na tua capacidade de trabalho.

 Um grande abraço, do tio Wenceslau.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

CPMF - SIM OU NÃO?

 Volta-se, novamente, aos debates sobre o retorno, ou não, da CPMF como forma de solucionar (ou amenizar) o grave problema de saúde no Brasil. Muitos são contra porque estão sendo programados para isso, diariamente, pela mídia que, obviamente. defende os mais aquinhoados.

 A bem da verdade, deve-se ressaltar duas questões que julgo importantes para uma análise da matéria. Primeira: este foi o imposto mais justo até agora criado no Brasil. Muito mais do que o próprio imposto de renda que taxa salários desproporcionalmente e atinge uma pequena parcela da população. Segunda: essa contribuição atingiu a muitos que nunca pagaram qualquer imposto ou PAGAM MUITO MENOS DO QUE DEVERIAM. Essa, realmente, foi a principal causa porquê foi extinta. Você já pensou em qual era a sua contribuição mensal quando a taxa existia? Agora, pense, também, quanto deveria pagar alguém, como um profissional liberal, por exemplo, quando lhe prestou um serviço e não lhe passou um recibo. Ou outros tantos aos quais o Estado não tem condições de controlar e que eles próprios podem decidir o quanto querem pagar de imposto. Você acha correto esse procedimento? Todos nós teríamos dezenas de exemplos, lembrando as vezes em que nos deparamos com essa situação.

 Defendo que venha uma nova CPMF pela sua capacidade de exercer um controle sobre grande parte da economia que escapa do fisco. Com alguns reparos, evidentemente. Entre eles, que isente, como a primeira isentava, as pessoas que ganhem realmente pouco (o teto do INSS, é um bom parâmetro) e que seja utilizada, integralmente, somente em benefício da saúde. De acréscimo, poderia ser combinada com uma diminuição nas aliquotas do IR, atingindo, também, os menores salários.Com a sua implantação se poderia sanar uma parte da sonegação (ilegal e ilegítima) praticada por aqueles que desfrutam de enormes capitais e, praticamente, passam pela economia sem contribuirem para a coletividade.

 Um dos grandes méritos da CPMF é o de contribuir para diminuir o aumento da parcela do "sonegômetro", não concordam?
   

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DIA DO RETORNO SERÁ EM DEZEMBRO

 Uma das missões entre as que deveria cumprir em Jaguarão, em minha última estada lá, era a de ter conhecimento das providências que estão sendo tomadas objetivando à realização do Dia do Retorno 2011.

 Tive a feliz oportunidade de conversar com o Secretário de Cultura do Município, Alencar Porto, e com o Senhor Prefeito Municipal, Cláudio Martins, tendo recebido a informação de que o RETORNO deste ano ocorrerá em dezembro, em dia a ser definido ainda neste mês. A mudança deve-se a fato de que ocorrerão naquela ocasião, concomitantemente, dois eventos que são a Feira Binacional do Livro e o Festival de Música Canto do Jaguar, o que motivaria uma maior participação dos jaguarenses que se encontram fora da cidade.

 Tão logo fique definida a data do DIA DO RETORNO, estaremos informando os conterrâneos através deste espaço pelo qual, também, os interessados poderão acompanhar outros assuntos de interesse de Jaguarão. Durante a confraternização, que deverá ocorrer provavelmente no mês de outubro, já poderemos ter maiores detalhes sobre o evento. 

terça-feira, 13 de setembro de 2011

JAGUARÃO NA EXPECTATIVA

 Durante nossa estada em Jaguarão, na semana passada, estivemos em contato com a presidenta da CDL local, Maria Ema Lippollis, quando pudemos nos atualizar em relação aos acontecimentos que deverão possibilitar a instalação dos "free shoppings" nas faixas de fronteira.

 O Substitutivo ao Projeto de Lei 6.316/09, de autoria do Dep. Marco Maia, tem como relator na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal o Dep. Jerônimo Goergen, também da bancada gaúcha. Nesta quarta-feira, dia 14 de setembro, às 10h, deverá ocorrer reunião da mencionada Comissão quando deverá ser votado o relatório favorável àquela Proposição. Na oportunidade, estarão em Brasília, representantes dos doze municípios do Rio Grande do Sul que serão beneficiados com a medida.

 Segundo a presidenta da CDL de Jaguarão, que lidera o movimento no Estado pela aprovação do Projeto, em todo o País 30 municípios fronteiriços poderão ser atingidos pela lei, destacando que, somente em 2010, o faturamento dos "free shoppings" alcançou a cifra de US$ l bilhão.

 Considerando-se que a matéria não precisa ser submetida ao Plenário, logo após sua aprovação na Câmara Federal, será encaminhada ao Senado, onde os senadores gaúchos Pedro Simon, Paulo Paim e Ana Amélia Lemos, já se manifestaram favoráveis, dispondo-se, esta última, inclusive, a ser relatora da proposição.

 Resta, portanto, aos jaguarenses, ficarem na torcida para que tudo acabe dando certo e, após vencer toda a tradicional burocracia que esses casos requerem, possamos ver nossa cidade com seu mercado de trabalho ampliado com os benefícios que dele costumam advir.

 

domingo, 11 de setembro de 2011

OUTRO ONZE DE SETEMBRO

 Mesmo que a mídia brasileira e internacional não lhe dêem a mesma importância, houve um outro onze de setembro. E não ocorreram mortes - também lamentáveis - em um único dia. Nem, tampouco, foram maquinadas por fundamentalistas islâmicos fanáticos. Neste caso, as atrocidades foram cometidas, durante dezessete anos, por "militares e civis cristãos", que conseguiram instituir a mais sangrenta e brutal das  ditaduras entre as que então ocorriam na América Latina. Em onze de setembro de 1973 alguns generais golpistas chilenos derrubaram pela força, o primeiro presidente socialista eleito diretamente pelo povo - Salvador Allende, levando-o a morte.

 Este mesmo povo que, hoje, chorava a morte de seus entes queridos que pereceram no atentado das torres gêmeas, escolheu para dirigi-lo pessoas que decidiram apoiar (de várias formas) regimes nos quais se utilizou a supressão das liberdades individuais, a prisão ilegal, o banimento, a tortura cruel e até a morte como forma de manter a submissão dos povos em benefício de um pequeno grupo. Isto aconteceu em Países como a Argentina, o Uruguay e o próprio Brasil.

 A mesma data - onze de setembro - separada por duas décadas deveria nos levar a meditar sobre a  importância da escolha daqueles a quem queremos que nos represente, assim como a responsabilidade daquelas decisões tomadas em nosso nome por aqueles que elegemos. Até que ponto o povo dos Estados Unidos tem consciência de que as decisões dos seus dirigentes interferem sobre a vida e a morte de milhões de pessoas quando seus governos se autoproclamam  juízes do mundo, acima do bem e do mal? Estarão, realmente, esses dirigentes, decidindo com aprovação de seus eleitores?  Se a resposta for negativa, cabe questionar por que permitem que seus filhos percam suas vidas em nome de algo em que não acreditam. E se a resposta for positiva? Bem...então, realmente, é tudo muito pior do que pensamos. Não posso evitar de lembrar a indignação do nosso Castro Alves, frente à ignomínia da escravidão: "E existe um povo que a bandeira empresta..." 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

OUVINDO SABIÁS

 Nunca tive bem certeza se é a primavera que nos traz o sabiá ou o sabiá é quem busca a primavera para nós. Não acredito em calendário, com datas computadorizadas e imutáveis. Acredito mais na primavera como um estado de espírito; como uma energia que se descobre invadindo nosso espaço, intercalando zunidos variados e tique-taques de corações batendo mais forte. Sempre procuro sinais dela para saber se já está chegando com sua luz e suas cores que enfeitam a vida e trazem mais encanto depois do cinza do inverno. Às vezes me engano. Como desta vez em que os ipês que margeiam a BR explodiram cedo em flores amarelas, enganados pela suavidade do final da estação anterior. Também a carrochinha, inquilina anual da nossa caixa de correspondência, se apressou em preparar seu ninho de amor, mas ainda não era a hora.

 O sabiá é meu norte. Ele não falha. O primeiro sinal de que o momento está próximo é quando aparece, ainda silencioso, entre os galhos da capororoca. Inquieto, saltitante, peito levantado, atento ao menor movimento em seu redor, ele se apresenta a seu público; aos que irão aplaudir seu canto depois que o espetáculo começar. Mas, ainda não é a hora. Quando a primavera autorizar ou quando ele a convocar, aí sim, vamos ouvir o mais melodioso e sentimental canto de um pássaro em nossa região. Não conheço outro que consiga despertar essa miscelânea de sentimentos. É preciso, no entanto, que saibamos escutá-lo, assim como se escuta uma bela sinfonia criada pelo homem. Também não conheço forma mais desumana de tratar a natureza do que a atitude egoista de aprisionar um pássaro com tal capacidade de mexer com nossos sentimentos. Quem condena um sabiá à prisão, privatizando seu canto, está nos roubando momentos que não poderão ser compensados. E o mais contraditório ainda é que sua condenação é pelo crime de disseminar a alegria.

 Fico imaginando que, se todos os sabiás estivessem engaiolados, não teríamos primavera, pois eu penso que a estação não aconteceria se não houvesse um sabiá para convocá-la a trazer-nos suas cores e suas flores. E, se não tivéssemos primavera, não haveria o amor à beleza e nem a vida multiplicada mil vezes para a continuação daquelas espécies que precisam dela para se multiplicarem.

 Benditos sejam, pois, todos os sabiás, que nos trazem as primaveras e benditas sejam todas primaveras porque nos trazem os sabiás, com seu porte; com sua graça e com seu canto-mensagem. Por certo,  a natureza os inventou para lembrar-nos que não somos os únicos belos e perfeitos de passagem por aqui.
(Wenceslau Gonçalves)

(Publicado na Gazeta Regional/Camaquã em 28.09.01)

MICROPOEMA 1

As flores
São apenas a mensagem.
Falar do amor
Requer mais coragem...